Dr. João Cruz Nascimento


CIRURGIA DE CATARATA
O que é uma Catarata ?
A formação de uma imagem nítida no olho humano, depende entre outros fatores da integridade e da transparência de duas lentes muito importantes; a córnea e o cristalino. O cristalino é a lente natural do olho que se encontra no seu interior imediatamente por detrás da íris. Designa-se por catarata a opacificação do cristalino. A consequente diminuição da transparência do cristalino vai interferir com a formação e focagem da imagem na retina e assim reduzir a visão do olho afetado.
Existem diversos tipos de cataratas?
O tipo anatómico de catarata não tem grande relevância clínica: As cataratas podem apresentar-se como opacidades que afetam de forma diferente a estrutura do cristalino: Cataratas que afetam o centro da lente (catarata nuclear). A catarata nuclear pode, em primeiro lugar, causar um aumento da miopia ou mesmo uma melhoria temporária na sua visão de leitura. Mas com o tempo, gradualmente torna-se mais densa e acaba por tornar a visão enublada. As Cataratas que afetam a periferia da lente (catarata cortical). Uma catarata cortical começa como opacidades, em forma de cunha, no bordo externa da lente. À medida que avançam lentamente, estas opacidades estendem-se ao centro e acabam por interferir com a passagem da luz pelo eixo óptico. Cataratas que afetam a face posterior da lente (catarata subcapsular posterior). Uma catarata subcapsular posterior apresenta-se no inicio como uma pequena área pequena e opaca. Uma catarata subcapsular posterior mesmo com uma ligeira opacidade provoca uma grande interferência na visão, comprometendo-a fortemente.
Mais importantes são as cataratas congénitas ou que desenvolvem durante a infância. Essas cataratas podem ser genéticas ou associadas a uma infeção ou trauma intra-uterino. São cataratas que também podem ser devidas a certas condições, tais como distrofia miotônica, galactosemia, neurofibromatosis tipo 2 ou rubéola. As cataratas congênitas nem sempre afetam a visão, mas, se o fizerem, geralmente devem removidas logo após o seu diagnóstico.
As Cataratas são originadas por alguma causa em particular?
Existem grupos de “risco” no que diz respeito às cataratas?
Existem um sem numero de situações clínicas que podem levar ao desenvolvimento de cataratas.
A maioria das cataratas está relacionada com o normal processo degenerativo de envelhecimento e por isso aparecem em pessoas mais velhas, no entanto, alguns distúrbios genéticos e metabólicos ou alguns fatores de exposição ambiental podem aumentar o risco de catarata em pacientes mais jovens.
Os diabéticos em particular ou doentes submetidos de forma prolongada a tratamentos com corticoides são mais suscetíveis ao desenvolvimento de cataratas. A exposição excessiva á luz solar ou á radiação infravermelha em certos grupos profissionais ou lesões oculares prévias com inflamação ou cirurgia ocular são igualmente fatores predisponentes.
Não podemos deixar de referir ainda as causas traumáticas e as congénitas. As traumáticas que frequentemente se associam a outras complicações oculares, e as congénitas pela necessidade de diagnóstico e tratamentos rápido. Raramente as cataratas estão presentes desde o nascimento ou nos primeiros anos de vida, no entanto é vital para as crianças nesta situação, que a condição seja diagnosticada e tratada o mais rapidamente possível, por forma a restaurar com a maior brevidade a visão do olho atingido, e assim restabelecer o desenvolvimento visual, que de outra forma poderá ficar irremediavelmente comprometido.
Quais são os principais sintomas das cataratas?
Normalmente este processo de opacificação do cristalino é progressivo. Para as pessoas que têm cataratas a visão assemelha-se a uma visão turva quando temos as lentes dos óculos sujas, é uma visão semelhante á visão que temos quando olhamos através de uma janela embaciada. A visão fica enevoada e pode dificultar a leitura, a condução (especialmente à noite) a identificação da expressão facial no rosto de um amigo ou familiar ou finalmente a leitura.
A maioria das cataratas desenvolve-se devagar e não perturba a visão no início. Mas como normalmente este processo de opacificação do cristalino é progressivo com o tempo, as cataratas acabarão por interferir na sua visão. No início, medidas simples como melhorar a iluminação e ou ajustar a graduação dos óculos permite compensar parcialmente a perda de visão provocada pela catarata. Os sintomas mais frequentes são: Visão enublada ou turva, redução da visão sobretudo ao entardecer e noite, sensibilidade á luz e encadeamento, e necessidade de aumentar a intensidade da luz para atividades de leitura e outras atividades com necessidade de visão para perto.
É possível detetarmos uma catarata a olho nu?
Apenas nos estadios mais avançados, quando existe uma opacidade praticamente total do cristalino, a catarata poderá ser facilmente identificada a olho nu como um reflexo branco ou amarelado na área pupilar. À exceção de alguns tipos de cataratas, como as cataratas traumáticas o normal é iniciarem-se por um processo progressivo e lento que inicialmente é praticamente impercetível. Durante o seu processo de evolução existe tempo que sobra para diagnosticar e tratar a catarata antes que se transforme numa opacidade praticamente total passível de se identificar a olho nu. Felizmente e graças à melhoria dos cuidados de saúde nos países ocidentais, cada vez é mais raro uma catarata chegar a este estadio de desenvolvimento.
Todas as cataratas são para operar?
Não nem todas as cataratas são para operar. Uma catarata geralmente começa muito pequena e de forma gradual, praticamente impercetível no início, e sem interferir na visão do paciente, mas com o seu crescimento vai dificultando a visão que fica cada vez mais nublada.
À exceção de situações clínicas muito particulares a cirurgia de catarata apenas está indicada a quando a catarata interfere significativamente com a visão e o estilo de vida do paciente. O paciente deve consultar o seu médico oftalmologista regularmente para que o progresso da catarata seja monitorizado.
Se a catarata estiver a interferir com a visão num ponto em que já se torna penoso ou não é seguro conduzir, ou fazer tarefas diárias, então, então chegou o momento de discutir a cirurgia com o médico oftalmologista.
Existem ainda condições clínicas excecionais e muito particulares onde poderá estar indicada a remoção da catarata não tanto pela sua interferência na visão mas essencialmente porque a sua presença impede o tratamento ou a correta avaliação de outra condição clínica oftalmológica.
Quais são as principais formas para tratar a catarata?
Na presença de uma catarata e quando a prescrição de óculos já não consegue melhorar de forma satisfatória a sua visão, o único tratamento eficaz é a cirurgia.
A Facoemulsificação é a técnica cirúrgica mais atual para a extração cirúrgica da catarata; apesar de não ser isenta de riscos é extremamente segura e eficaz. A cirurgia é realizada por uma micro-incisão (entre 2,4-2,8 mm) e consiste na destruição do cristalino opacificado recorrendo a um aparelho com ultrassons (Faco-emulsificação). Atualmente existe a possibilidade usar um aparelho de laser de femtosegundo para realizar algumas das etapas da cirurgia (incisões, capsulorrexis e nucleofragmentação) o que em alguns casos permite melhorar a precisão, e a preditibilidade cirúrgica.
Após a sua extração, implanta-se uma lente intra-ocular dobrável (LIO). O implante da LIO possibilita a restauração da visão e em grau variável a correção óptica dos óculos. A seleção da LIO (Lente Intraocular) resulta da integração das necessidades e expectativas de cada paciente, com as características clínicas oftalmológicas em cada caso. Atualmente existem disponíveis LIOs monofocais (esféricas e asféricas) e as chamadas de LIOs “Premium” (tóricas e multifocais) que permitem corrigir astigmatismos e possibilitam a multifocalidade (visão de perto e longe e/ou meia distância).
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